Anton Makarenko

 

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Biografia

 Anton Semionovich Makarenko nasceu em 1888 na Ucrânia. Aos 17 anos, concluiu o curso de Magistério e entrou em contato com as idéias revolucionárias de Lênin e Máximo Gorki, que influenciaram sua visão de mundo e de educação. Sua primeira experiência em sala de aula foi na Escola Primária das Oficinas Ferroviárias. Em seguida assumiu a direção de uma escola secundária. Ampliou o espaço cultural e mudou o currículo com a ajuda de pais e professores. E estabeleceu o ensino da língua ucraniana. Sua mais marcante experiência deu-se em uma instituição rural que atendia crianças e jovens órfãos que haviam vivido na marginalidade, pôs em prática um ensino que privilegiava a vida em comunidade, o trabalho e a disciplina. Publicou novelas, peças de teatro e livros sobre educação. Morreu de ataque cardíaco em 1939.

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Teorias e Ideias

 Na busca de igualdade efetiva, o socialismo critica a sociedade dividida em classes e valoriza a escola unitária, na qual todos tenham o mesmo tipo de escolarização e não haja separação entre trabalho intelectual e manual. Logo na revolução russa em 1917, o ministro da educação Lunatcharski junto com makarenko e Pistrak introduzem profundas alterações nas concepções pedagógicas, aplicando os princípios da escola do trabalho, segundo os quais o trabalho é importante como expressão de valor moral.

O professor makarenko propõe a substituição da escola burguesa baseada nos métodos lúdicos pela escola baseada no trabalho produtivo. A escola seria uma comunidade, um “coletivo”, que produza bens econômicos. A nova pedagogia valoriza também a ligação entre a escola e a vida, necessária para se formar o novo cidadão que a sociedade revolucionaria precisava. Por isso o destaque ao trabalho coletivo, fazendo com que as formas individualistas evoluam em direção à cooperação, ao apoio mútuo e à auto-organização dos estudantes.

Os educandos não vivem isolamente, mas fazem parte de uma comunidade de vida. O coletivo é uma célula da grande sociedade comunista. No coletivo não se prepara para a vida, mas vive-se através do trabalho, da disciplina e do sentimento do dever, que constituem na base da solidariedade humana. Para Makarenko “um coletivo feliz é uma sociedade feliz”. A vontade do grupo deve prevalecer sobre a vontade individual, Levando em conta os sentimentos dos alunos na busca pela felicidade. O que importava eram os interesses da comunidade e a criança tinha privilégios impensáveis na época, como opinar e discutir suas necessidades no universo escolar. “Foi a primeira vez que a infância foi encarada com respeito e direitos”, diz Cecília da Silveira Luedemann, educadora e autora do livro Anton Makarenko, Vida e Obra A Pedagogia na Revolução.

Makarenko escreveu o livro poema pedagógico, no qual relata suas experiências em um instituto de reabilitação de adolescentes marginais. Para instaurar a prioridade do coletivo, Makarenko usa de uma autoridade que em várias circunstâncias resvala em autoritarismo, recorrendo inclusive a castigos físicos. Makarenko argumenta que o choque entre as individualidades gera conflitos nos quais impera a lei do mais forte, isto justificaria o caráter provisório da violência usada, porque nesse caso, a autoriade do professor seria adequada na medida em que visa reeducar para a vida em uma coletividade cujos valores principais são o trabalho, a disciplina e o sentimento do dever.

Mais que educar, com rigidez e disciplina, ele quis formar personalidades, criar pessoas conscientes de seu papel político, cultas, sadias e que se tornassem trabalhadores preocupados com o bem-estar do grupo, ou seja, solidários. Na sociedade socialista de então, o trabalho era considerado essencial para a formação do homem, não apenas um valor econômico. Makarenko aprendeu tudo na prática, na base de acertos e erros. Cada etapa de suas experiências foi registrada em relatórios, textos e livros. As dificuldades e os desafios têm muitos paralelos com os dos professores de hoje. A saída encontrada há quase um século correspondia às necessidades da época, mas servem de reflexão para buscar soluções atuais e entender a educação no mundo.

O grupo estimula o desenvolvimento individual. Como a instituição familiar (e tudo o mais na então União Soviética) estava em crise, essa foi a alternativa encontrada pelo educador para proteger a infância de seu país. O sentimento de grupo não era uma idéia abstrata. Tinha raízes nos ideais revolucionários e Makarenko soube como transformá-la em algo concreto. A colônia era auto-suficiente e a sobrevivência de cada um dependia do trabalho de todos. Para que a vida em comunidade desse certo era essencial que cada aluno tivesse claras suas responsabilidades. “Nunca mais ladrões nem mendigos: somos os dirigentes.” Makarenko era conhecido como um educador aberto, mas rígido e duro. Ele acreditava que o planejamento e o cumprimento das metas estabelecidas por todos só se concretizariam com uma direção muito firme. Por isso, os alunos tinham consciência de que a disciplina não era um fim, mas um meio para o sucesso da vida na escola.

Makarenko publicou em 1938, incompleto, o Livro dos Pais. O objetivo era mostrar a importância da participação da família na escola e como educar as crianças em tempos difíceis. Alguns estudantes moravam nas escolas dirigidas por ele. O educador ucraniano fazia questão da presença dos pais, que eram estimulados a participar de atividades culturais e recreativas. A escola tinha o papel de orientar a família, que deveria encará-la como um órgão normativo. Pais muito “melosos” ou ausentes seriam incapazes de educar uma pessoa forte, madura e inteligente. “O carinho, como o jogo e a comida, exige certa dosagem”, dizia.

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Makarenko na escola: o aluno ganha voz

Makarenko queria formar crianças capazes de dirigir a própria vida no presente e a vida do país no futuro. Exercícios físicos, trabalhos manuais, recreação, excursões, aulas de música e idas ao teatro faziam parte da rotina. A escola tinha que permitir o contato com a sociedade e com a natureza, ou seja, ser um lugar para o jovem viver a realidade concreta e participar das decisões sociais. O estudo do meio já era comum na escola de Makarenko, ainda que sem esse nome. Na Colônia Gorki, meninos e meninas eram divididos em grupos de dez, de diferentes faixas etárias. Um representante de cada turma participava de assembléias e reuniões em que se discutiam as situações da escola: um objeto roubado, a melhoria do prédio, a compra de materiais, a limpeza dos banheiros, os problemas particulares. Sexo e namoro também tinham espaço nas reuniões. Normas e decisões não podiam ser predeterminadas. O primeiro e o último voto eram sempre dos alunos.